domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tempo livre na medida certa aumenta sua felicidade

Tempo equilibrado
O que é mais desejável: pouco ou muito tempo livre ao seu dispor?
Apesar dos muitos elogios ao ócio, para ser feliz, o que é necessário é alguma coisa entre esses dois extremos, garantem Chris Manolis e James Roberts, das universidades de Xavier e Baylor (EUA).
Pelo menos no caso de jovens materialistas, às voltas com problemas de compras compulsivas, a quantidade certa de tempo livre é a chave para que eles se sintam mais felizes.
Materialismo e tempo
O tempo está na essência da nossa sociedade.
A percepção da falta de tempo, ou a pressão do tempo, está associada com níveis mais baixos de felicidade.
Ao mesmo tempo, a nossa cultura de consumo, caracterizada pelo materialismo e pelo comprar compulsivo, também tem um efeito sobre a felicidade das pessoas: o desejo de posses materialistas leva a uma menor satisfação geral com a vida, porque esses desejos são sempre substituídos por próximos, em uma espiral inatingível.
Dada a importância do tempo na vida contemporânea, Manolis e Roberts estudaram pela primeira vez o efeito do que eles chamam de "afluência do tempo percebido" - a quantidade de tempo livre que uma pessoa percebe que tem - sobre as consequências dos valores materialistas e do comprar compulsivo para o bem-estar de adolescentes.
Materialismo e compras compulsivas
Um total de 1.329 adolescentes de uma escola secundária pública em uma área metropolitana participaram do estudo.
Os pesquisadores mediram quanto tempo livre os jovens pensavam que tinham, o quanto mantinham valores materialistas e apresentavam tendências compulsivas de compra, e seu bem-estar subjetivo.
Os dados confirmam que tanto o materialismo quanto a compulsão pelas compras têm um impacto negativo sobre a felicidade dos adolescentes.
Quanto mais materialistas eles são, e quanto mais se envolvem em compras compulsivas, mais baixos são seus níveis de felicidade.
Além disso, a afluência de tempo modera as consequências negativas tanto do materialismo quanto do comprar compulsivo.
Tempo livre ideal
A afluência moderada de tempo - isto é, não ser nem muito ocupado, nem ter tempo livre demais - está ligada a níveis mais elevados de felicidade em adolescentes materialistas e naqueles que são compradores compulsivos.
Aqueles que sofrem de pressões de tempo e pensam materialisticamente, e/ou compram compulsivamente, sentem-se menos felizes em comparação com o seu grupo.
Da mesma forma, ter muito tempo livre agrava os efeitos negativos dos valores materialistas e da compra compulsiva sobre a felicidade dos adolescentes.
"Viver com uma quantidade sensata e equilibrada de tempo livre promove o bem-estar não só diretamente, mas também por ajudar a atenuar alguns dos efeitos colaterais negativos associados com a vida em nossa sociedade orientada para o consumo," concluem os autores.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Atendimento ao homem é superficial na atenção primária à saúde

Homens desprezados
Os serviços das Unidades Básicas de Saúde destinam pouca atenção a homens adultos e não possuem atendimento voltado especificamente a eles.
Além disso, as questões relacionadas à sexualidade masculina não são trabalhadas nessas unidades de atendimento, faltando discussão sobre o tema, assim como exames e programas de prevenção.
As conclusões são de uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP.
"De um lado, os próprios homens resistem a procurar os serviços de saúde; de outro, a expectativa dos profissionais de saúde de que o homem não vá procurar os serviços de atenção primária faz com que médicos, enfermeiros e outros atendentes se mostrem pouco preparados para recebê-lo e inseri-lo no cotidiano nos atendimentos", conta Thiago Félix Pinheiro, psicólogo e autor do estudo.
Segundo o pesquisador, a resistência dos homens está relacionada a valores culturais relacionados à virilidade, que já são parte de um modelo de masculinidade.
Ereção e próstata
A pesquisa, feita na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, consistiu na realização de 57 entrevistas com homens entre 16 e 68 anos que frequentavam serviços de atendimento primário e na observação e análise desses locais de atendimento, desde sala de espera e consultas dos pacientes até os momentos de intervalo dos profissionais.
Notou-se, então, que há uma superficialidade no tratamento dado. "As demandas dos pacientes são tratadas em termos essencialmente fisiopatológicos, em um discurso medicalizado", diz Pinheiro, que explica que os aspectos psicológico e social do homem não são pensados nesse tipo de abordagem.
"Se ele tem um problema relacionado à ereção, por exemplo, os profissionais se atêm a pensar que há uma falha orgânica ou que o problema está sendo causado por alguma medicação que o paciente está tomando."
A postura adotada pelos profissionais em situações de constrangimento também é vista pelo pesquisador como um problema. "Alguns profissionais defendem que não há motivo para receio na realização de um exame de próstata, por exemplo, por ser uma intervenção estritamente profissional, e desconsideram, assim, que o procedimento do toque retal interfere em representações ligadas à masculinidade", diz o psicólogo.
Ele afirma que essa situação agrava ainda mais a dificuldade de aproximação do paciente. A situação se transforma em um ciclo, agravando o despreparo das duas partes e fazendo com que o homem permaneça ainda mais afastado do contexto da saúde pública.
Sexualidade masculina
Observando as consultas, Pinheiro percebeu uma grande diferenciação nos tratamentos ao homem e à mulher em relação à sexualidade: enquanto grupos de discussão e atividades de prevenção integram a agenda de pacientes do sexo feminino que vão ao serviço de atenção primária, não há atividade alguma para os homens.
"A distribuição de camisinhas nas unidades de saúde deixa isso muito claro: enquanto a mulher recebe uma série de orientações sobre o uso do preservativo nos grupos de planejamento familiar, o homem simplesmente pede e retira a camisinha na farmácia das unidades. Alguns profissionais partem do pressuposto de que o homem não tem dúvidas nem questões a respeito do preservativo".
O psicólogo diz que, nesse sentido, a rotulação da sexualidade masculina como algo impulsivo fortalece a disparidade entre os tratamentos.
Outra diferença notada pelo pesquisador foi a de que boa parte das demandas em sexualidade masculina não são consideradas alçada das Unidades Básicas de Saúde e sim da assistência especializada.
"Nas unidades básicas, uma mulher pode realizar consulta ginecológica para diagnóstico precoce de DST. Quando identificado, esse problema é tratado no próprio local e ela é responsabilizada pelo tratamento do parceiro. Já no caso do homem, não há um atendimento específico para tais questões. Quando ele apresenta uma DST, por exemplo, é encaminhado para serviços especializados em outros lugares, o que implica uma nova espera para marcar outra consulta e enfrentar outras filas. Isso novamente o desestimula a procurar serviços de saúde."
Atenção Integral à Saúde do Homem
O Ministério da Saúde publicou, em maio de 2009, um documento que lançou aPolítica Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.
A proposta tem a intenção de promover o atendimento direcionado ao homem na saúde primária e dar mais atenção às questões masculinas que envolvem a saúde pública, assim como já vem fazendo com a saúde da mulher.
Porém, a política, que ainda está em fase inicial de implementação, é tema de várias discussões tanto no âmbito acadêmico quanto governamental - vejaMinistério da Saúde quer criar "pré-natal" masculino.
Um dos receios mencionados por Pinheiro é que o atendimento aos homens reproduza a medicalização da sexualidade e a falta de análise das masculinidades.
"Esse documento deve seguir a direção da proteção e promoção da saúde e de uma abordagem integral dos sujeitos, dando assistência psicológica e social ao homem", diz o pesquisador.

Falta de antibióticos eficazes contra superbactérias preocupa especialistas

O Diário Oficial da União publicou determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) queobriga farmácias a reterem receitas de antibióticos, cujo uso indiscriminado é apontado como um fator para o fortalecimento das chamadas "superbactérias".
E, para evitar contaminações pela KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), que seria responsável por pelo menos 18 mortes no Distrito Federal e se tornou resistente a antibióticos, a Anvisa obrigará hospitais e clínicas a colocar recipientes de álcool em gel em suas dependências.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, alertam para um problema que vai além da contaminação: a produção de medicamentos para o tratamento das vítimas.
"A resistência de bactérias não é nenhuma novidade", disse à BBC Brasil David Uip, diretor do hospital Emilio Ribas. "O que preocupa é a falta de perspectiva (quanto à produção de medicamentos). Atualmente, estamos reabilitando velhos antibióticos, como polimixina, e usando-os com novos para melhorar sua performance."
KPC
Para Giuseppe Cornaglia, microbiologista da Universidade de Verona (Itália) e membro da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, superbactérias "são um problema de saúde pública para o qual não teremos antibióticos nos próximos dez anos".
Ana Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo, afirma que há testes sendo feitos para drogas que possam combater a bactéria KPC, "mas, para bactérias resistentes à polimixina, não há opção terapêutica". Mesmo experiências com vacinas e anticorpos têm eficácia incerta.
Só no Distrito Federal, região mais atingida do país, a Secretaria da Saúde local contabilizou 194 casos de KPC até 22 de outubro. Mas a superbactéria está restrita aos hospitais e não deve causar epidemias, segundo especialistas consultados.
Superbactérias KPC e NDM-1
Superbactérias semelhantes têm sido identificadas em outros lugares. O caso mais recente a ganhar repercussão mundial é do NDM-1, enzima que fortalece as bactérias perante medicamentos usados para combater infecções graves, causadas por outras bactérias resistentes.
Estudo do médico Timothy Walsh publicado em setembro no periódico especializado Lancet identificou infecções por bactérias portadoras do NDM-1 na Índia, no Paquistão e na Grã-Bretanha. Há relatos de casos também na América do Norte, na Austrália e em outros países da Europa.
"É grande o potencial (da bactéria) de se tornar um problema de saúde pública mundial, e é necessária vigilância coordenada internacional", escreveu Walsh.
Muitos especialistas relativizam a possibilidade de superbactérias se tornarem uma calamidade global, mas advertem para sua rápida proliferação.
"Em muitos casos, temos portadores (da bactéria) que não estão nem ficarão doentes. Mas ela se espalha muito rapidamente", disse Cornaglia.
Bactérias resistentes
O cientista afirma que não há formas de controlar o surgimento de bactérias resistentes. Elas sempre encontram um jeito de superar os medicamentos.
"A questão é o tempo. Quanto mais disseminado o uso de antibióticos, mais rapidamente elas ficarão resistentes", explicou Cornaglia.
"Quanto menor for o controle, mais rapidamente elas se proliferarão. Podemos tornar o processo mais lento usando antibióticos de uma melhor forma."
Para Ana Cristina Gales, o controle da proliferação passa por aumentar a proporção de funcionários por pacientes nos hospitais e sempre bater na tecla da higiene. "Todos nos hospitais têm de lavar as mãos. É a medida mais simples e importante."
A prescrição e o uso disseminados dos antibióticos também preocupam os especialistas.
Para aumentar o controle sobre seu uso, a Anvisa determina, na resolução publicada nesta quinta-feira, que a farmácia retenha a primeira via da receita do medicamento, sob pena de multa e interdição se não o fizer. A segunda via da receita é carimbada e devolvida ao paciente.
Mas, além do uso tradicional, os medicamentos se fazem presentes em formas menos óbvias, diz Gales: "há antibióticos nos resíduos descartados por hospitais, nos animais criados na pecuária. Seria necessário discutir seu controle em todos os setores".
Desenvolvimento de antibióticos
Quanto à produção de novas drogas, Uip se diz pessimista. Calcula que, da descoberta em laboratório da molécula a ser usada contra as superbactérias até a comercialização do remédio produzido, sejam necessários investimentos de "800 milhões de euros".
"Por isso, defendo uma política pública global no desenvolvimento de antibióticos", opinou Uip.
Nos Estados Unidos existe até lobby por uma iniciativa do tipo.
A organização Infectious Diseases Society for America defende "a união das comunidades científica, industrial, econômica, intelectual, política, médica e filantrópica" para desenvolver dez novas drogas antibacterianas até 2020, sob o argumento de que "infecções resistentes estão crescendo nos EUA e ao redor do mundo".

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dependência de drogas: por que apenas algumas pessoas se viciam?

Plasticidade sináptica
Por que apenas algumas poucas pessoas que usam drogas tornam-se dependentes dessas substâncias?
Pesquisadores franceses acabam de descobrir que a transição de um uso comum para o vício pode resultar de uma deficiência persistente de plasticidade sináptica em uma estrutura-chave do cérebro.
Esta que é a primeira demonstração de que existe uma correlação entre a plasticidade sináptica e a transição para a dependência, foi demonstrada por Pier Vincenzo Piazza e Olivier Manzoni, do Neurocentro Magendie, em Bordeaux.
Anaplasticidade
Os resultados questionam a noção largamente aceita pelos cientistas de que o vício em substâncias químicas resulta de modificações cerebrais que se desenvolvem gradualmente com o uso das drogas.
A pesquisa demonstra que, ao contrário, a dependência pode vir de uma espécie de anaplasticidade, ou seja, da incapacidade das pessoas viciadas em contrabalançar as alterações patológicas causadas pela droga em seus organismos.
Biologia do vício
O consumo voluntário de drogas é um comportamento encontrado em muitas espécies de animais.
No entanto, por muito tempo os cientistas consideraram que a dependência - definida como o consumo compulsivo e patológico de drogas - seria um comportamento específico da espécie humana e da sua estrutura social.
Em 2004, contudo, a equipe de Piazza demonstrou que os comportamentos que definem o vício em seres humanos também aparecem em alguns ratos que se autoadministram a cocaína.
A dependência de substâncias químicas apresenta semelhanças surpreendentes entre os homens e os roedores - em especial o fato de que apenas um pequeno número de consumidores (ou de roedores) desenvolve a dependência das drogas.
O estudo do comportamento da dependência de drogas nesse modelo animal abriu o caminho para o estudo da biologia do vício.
Do uso normal para o vício
Agora, os cientistas estão relatando a descoberta dos primeiros mecanismos biológicos usados para a transição entre o uso regular, mas controlado, da droga, para uma verdadeira dependência da cocaína, caracterizada por uma perda de controle sobre o consumo da droga.
Comparando animais viciados e não-viciados em momentos diferentes durante sua história de consumo de drogas, a equipe descobriu que os animais que desenvolvem a dependência de cocaína apresentam uma perda permanente da capacidade para produzir uma forma da plasticidade conhecida como depressão de longa duração (ou LTD: Long Term Depression).
Depressão de longa duração
A depressão de longa duração refere-se à capacidade das sinapses (região de comunicação entre os neurônios) para reduzir sua atividade sob o efeito de determinados estímulos.
Ela desempenha um papel importante na capacidade de desenvolver novos traços de memória e, consequentemente, para demonstrar flexibilidade no comportamento.
Após um pequeno uso da cocaína, com pequena duração no tempo, a LTD não sofre modificações. No entanto, após um longo uso da droga, surge um défice significativo da LTD em todos os usuários.
Comportamento rígido
Sem esta forma de plasticidade, que permite que ocorram novas aprendizagens, o comportamento no que diz respeito à droga torna-se cada vez mais rígido, abrindo a porta para o desenvolvimento de um consumo compulsivo - o vício, ou dependência química.
O cérebro da maioria dos usuários é capaz de produzir adaptações biológicas que permitem compensar os efeitos da droga e recuperar uma LTD normal.
Por outro lado, o anaplasticidade (ou a falta de plasticidade) apresentada pelo viciados os deixa sem defesas e, consequentemente, o défice de LTD provocado pela droga torna-se crônico.